A NUTRIÇÃO E O LEITE MATERNO
Nos últimos vinte anos assistiu-se a um notável progresso científico e tecnológico na área da Neonatologia que tem tornado possível a sobrevivência de bebés prematuros cada vez mais pequenos.
Para esta situação, muito contribuiu o aparecimento de novas fórmulas de alimentação o que constitui um factor determinante para uma boa sobrevivência em qualquer idade, em especial entre prematuros. Dependendo da idade de gestação em que nasce, o bebé prematuro poderá vir a ser alimentado através das veias por soluções especialmente concebidas para o efeito e logo que esteja livre dos problemas que afectam a sua estabilidade, irá ser alimentado através de sonda ou mesmo pela boca, com o leite da sua mãe.
O estado de nutrição da mãe, tem grande influência na saúde do bebé tanto no ambiente intra-uterino como depois de nascer e até em idades mais tardias. Um meio intra-uterino desfavorável em que o feto se desenvolve parece desempenhar um papel muito importante na possibilidade da criança vir a apresentar na idade adulta determinadas doenças como a hipertensão e a diabetes. Por isso ao nascer, o peso do bebé constitui um parâmetro biológico muito importante.
O crescimento do sistema digestivo está dependente das hormonas intestinais e outros factores cuja produção é estimulada pelo alimento que o bebé irá receber, mesmo a partir de quantidades pequenas.
O leite materno, além da nutrição, exerce um poderoso efeito sobre o intestino, estimulando o seu crescimento e a sua maturação funcional, desenvolvendo uma flora saudável e tornando-o apto a iniciar a produção de anticorpos, hormonas e muitas outras substâncias necessárias que além doutras acções garantem uma boa absorção dos alimentos. Deste modo, a interacção entre a nutrição, a imunidade e a infecção tem profundas consequências na nutrição e bem-estar das crianças. O leite de mãe de um bebé prematuro é substancialmente diferente do leite de uma mãe que tenha tido um bebé no termo da sua gravidez. Porém, ambos são adequados às suas necessidades embora actualmente se pense que os prematuros tenham durante muito tempo uma maior necessidade de proteínas, cálcio e sais minerais. Para satisfazer esta exigência, foi criado um preparado rico em proteínas e outros nutrientes que muitas vezes é adicionado ao leite materno até o bebé atingir maior peso.
O apoio nutricional ao desenvolvimento de um sistema digestivo imaturo deve merecer uma atenção especial nos cuidados ao recém-nascido. Valorizando o efeito protector do leite materno, as mães de prematuros muito pequenos com longas estadias no hospital, merecem redobrada atenção devendo ser apoiadas no processo de amamentação.
O leite materno irá adaptar-se progressivamente às necessidades do bebé de modo a que, chegado o dia da alta, não haja problemas no que se refere ao aumento de peso e tranquilidade dos pais.
Nos casos particulares em que a secreção do leite materno se torna manifestamente insuficiente é necessário recorrer a leites artificiais. Existem actualmente fórmulas lácteas especialmente concebidas para bebés prematuros, para serem usados quer durante o internamento, quer nos meses a seguir à alta. Estes leites especiais são reforçados com calorias e nutrientes para que correspondam às exigências nutricionais no período de crescimento rápido dos prematuros.
Após a alta e de um modo geral, o prematuro cresce a um ritmo rápido até à idade corrigida, mas apesar deste facto estes bebés serão mais pequenos e mais leves do que os recém-nascidos de termo da mesma idade. A fase mais rápida do crescimento que irá colocar o bebé a par de outros da mesma idade mas que nasceram de gravidezes de termo situa-se entre os 2 e 3 anos, embora o processo possa estender-se ao longo da adolescência. O bebé será observado com maior frequência nos primeiros meses, para se avaliar a evolução do peso, do perímetro cefálico e do comprimento e, também, para acompanhamento e apoio dos Pais nas suas dificuldades de adaptação a um bebé tão especial. A avaliação do crescimento e do desenvolvimento motor e intelectual serão os instrumentos de medida de uma boa nutrição resultantes dos benefícios do aleitamento materno ou da alimentação artificial quando o leite materno se torna insuficiente.
Em suma, a melhor qualidade de vida alcançada em bebés prematuros muito pequenos tem sido possível ultrapassando a imaturidade de vários órgãos e aparelhos, entre os quais o gastrointestinal. Neste sentido, é um desafio garantir ao bebé nascido muito precocemente uma nutrição equivalente à que recebia no ambiente intra-uterino.
O leite materno tem um papel primordial nesta adaptação, existindo porém alternativas satisfatórias quando o bebé se vê impedido de ser alimentado em pleno com o leite de sua mãe.
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