O CHORO DO BEBÊ

O CHORO DO BEBÉ

Durante algumas semanas, ou mesmo alguns meses, o bebé prematuro permaneceu na Unidade de Neonatologia, até estar apto a alimentar-se por tetina, a controlar a temperatura, a não «se esquecer» de respirar,... enfim, o tempo necessário para recuperar de um nascimento precoce.

Mas, finalmente chegou o dia tão esperado pelos pais – o dia da alta.

Em casa, vão começar uma nova etapa juntos.
Para os jovens pais, sobretudo quando se trata do primeiro filho, e mais sendo prematuro, a chegada do bebé a casa é um misto de felicidade, mas também de dúvidas e anseios. No momento da alta, a maioria dos bebés prematuros têm uma idade inferior à que teriam se tivessem nascido de termo. Inicialmente pode ser difícil compreender os padrões de comportamento do bebé, o que pode causar frustração e stress aos pais.

As dúvidas aparecem... «Será que sou capaz de cuidar do meu bebé?» «Como vou perceber aquilo de que ele necessita?» «Porque está a chorar? O que terá?» «Porque não consigo consolá-lo?»

Contudo, à medida que vão passando as semanas, irá haver maior maturidade e desenvolvimento do sistema nervoso central e as suas respostas serão mais adequadas e previsíveis.

O choro é a linguagem universal dos bebés e é através dele que exprimem as suas necessidades. É a forma mais precoce de comunicação. Nos primeiros meses de vida, o choro, o tónus muscular, o olhar, o movimento corporal, tudo é linguagem.
É deste modo que o bebé expõe, à sua maneira, as suas necessidades, sentimentos e sensações. À medida que o tempo passa, o bebé irá melhorar a sua capacidade de comunicar e os pais aprenderão a interpretar e descodificar o significado de certos sinais.

Todos os bebés choram.
Inicialmente o bebé prematuro chora pouco, por períodos de curta duração, sendo facilmente consolável, ao ser acariciado ou quando lhe é oferecida a chupeta. À medida que se aproxima a altura prevista do parto (38 – 40 semanas de idade corrigida) o choro torna-se mais frequente, sendo um bom sinal de desenvolvimento normal da criança.
Alguns prematuros, sobretudo os que nasceram com menos semanas de gestação, podem estar agitados e chorar durante cerca de 6 horas por dia, com um pico máximo aos 3 – 4 meses de idade corrigida.
Ao ficarem mais maduros, tranquilizam-se mais facilmente, choram menos, os períodos de sono tornam-se mais regulares e o bebé «aprende» a acalmar-se e a autoconsolar-se.
O choro persistente ocorre em cerca de 20% dos bebés, contudo, menos de 5% tem uma causa orgânica que justifique o choro.

O recém-nascido humano é completamente dependente dos cuidados maternos. A mãe, ao contrário dos outros prestadores de cuidados, está biologicamente programada para atender e responder ao choro do seu filho.
Ao ouvir o bebé chorar ocorrem transformações neuro-hormonais que a preparam física e psicologicamente, ajudando-a a suportar o stress e o cansaço, fortificando assim a relação de afecto entre a díade mãe-filho.
Decifrar o choro é um desafio que mistura intuição, conhecimento, precepção e aprendizagem por parte dos pais. Com o passar do tempo, os pais vão descobrindo e aprendendo que o seu bebé chora de diferentes modos, tons e sonoridades, consoante aquilo que nos quer transmitir.
Podemos destacar como causas do choro:
Causas físicas:
Fome;
Estar sujo ou molhado;
Roupa desconfortável;
Frio ou calor excessivo;
Sono;
Fadiga;
Excesso de estímulos;
Dificuldade em estabelecer auto-controlo.
Causas emocionais:
Exigir a presença dos pais;
Insegurança;
Falta de atenção;
Pedido de consolo / Mimo.

Causas patológicas:
Dor;
Síndrome de privação (mãe consumidora de drogas);
«Cólicas» / Dificuldade nas dejecções;

Apresenta concomitantemente sinais de doença:
- Febre / Hipotermia;
- Gemido;
- Prostração / Irritabilidade;
- Alteração da coloração (palidez, cianose, pele marmoreada)
- Dificuldade / Recusa alimentar:
- Vómitos / Diarreia;
- Dificuldade respiratória.

Quando as causas físicas foram verificadas e o choro persiste, podemos pensar em causas de desconforto emocional. Na maioria das vezes o choro acalma e cede quando confortamos o bebé. Se o choro mesmo assim persistir, mais tempo do que é habitual e se tornar incontrolável, apesar das medidas de conforto que habitualmente lhe prestamos, ou se for acompanhado de sinais clínicos de doença, a criança deverá ser de imediato orientada para o médico assistente / urgência hospitalar, para despiste de causas médicas ou cirúrgicas que sejam causadoras do choro.

Apesar de todo o esforço para os entender e consolar, há «bebés difíceis». A família, sobretudo os pais, ficam cansados e por vezes desesperados. Estabelece-se assim um ciclo vicioso entre o choro persistente da criança e a ansiedade, o cansaço e o desespero dos pais. Nalgumas situações os pais necessitam de apoio para poderem ultrapassar esta fase.

Assim, é recomendável:
Mobilizar o apoio de familiares e amigos;
Fazer «turnos»;
Tentar descontrair;
Descansar pelo menos uma vez por dia enquanto o bebé está a dormir;
Ter ajuda nas tarefas domésticas;
Despistar sinais de depressão materna;
Falar com outros pais com problemas semelhantes;
Procurar apoio em «linhas de ajuda» / técnicos de saúde.

Qual a atitude mais correcta a ter quando o bebé chora?
Atendê-lo de imediato? Ou deixá-lo chorar?

Responder ao apelo com tranquilidade, sem ansiedade nem angústia
Satisfazer as suas necessidades físicas
Pegar ao colo, aconchegar, embalar
Falar calmamente, acariciar, massajar
Oferecer o peito / Chupeta como pacificador
Criar e respeitar as rotinas do bebé.

É importante responder ao apelo do choro com uma resposta pronta, mas comedida por parte dos pais. Assim, o bebé sente que o seu pedido de ajuda foi compreendido e mereceu uma resposta. Isto irá contribuir para a sua auto-estima, proporcionando-lhe assim mais segurança e tranquilidade. À medida que o bebé cresce, entre as 3 e as 12 semanas de idade corrigida, é habitual surgirem períodos de choro persistente. Ocorrem subitamente como episódios de choro agudo e persistente, sem causa identificável, com duração superior a 3 horas por dia, mais de 3 dias por semana e mais de 3 meses, em crianças saudáveis.

Estes episódios acompanham-se de congestão facial, movimentos de flexão dos membros inferiores e agitação motora. É uma situação transitória que surge em lactentes com um exame físico e desenvolvimento normais.
No passado atribuíam-se estes episódios às «cólicas», hoje pensa-se que possam ter uma etiologia multifactorial (aerofagia, imaturidade gastro-intestinal, intolerância às proteínas do leite de vaca, refluxo gastro-esofágico, tensão emocional, alterações do mecanismo de auto-regulação).
Com o passar dos meses, o lactente tem agora maior capacidade de resolver sozinho os seus «problemas». Nesta fase é recomendável que os prestadores de cuidados não respondam ao choro de imediato, aguardem um pouco para verificar o modo como a criança lida com a frustração, ajudando-a assim, a conhecer-se e a autocontrolar-se.

O choro, agora menos frequente, continua a ser apelativo, exigente e por vezes manipulador. A criança aprendeu que pode comunicar de outros modos que não só pelo choro.

Estes meses deram tempo a que pais e filhos tivessem oportunidade de aprender a comunicar e a conhecerem-se mutuamente.

As mensagens do bebé são agora mais claras e melhor compreendidas por uns pais mais experientes e mais auto-confiantes..

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